São José, Mestre da Leitura Orante da Palavra

São José, Mestre da Leitura Orante da Palavra
Semente Josefina - Outubro de 2010

O crescimento de Jesus “em sabedoria, em estatura e em graça” (Lc 2,52), deu-se no âmbito da Sagrada Família, sob o olhar de São José, que tinha a alta função de o “criar”; ou seja, de alimentar, vestir e instruir Jesus na Lei e num ofício, em conformidade com os deveres estabelecidos para o pai.
(Papa João Paulo II - Redemptoris Custos 16)

Bíblia na mão, Palavra de Deus no coração e pés na missão.

Os Bispos do Brasil, através da sua Conferência Nacional (CNBB), indica-nos o caminho para a formação de discípulos apaixonados pelo Mestre: a prática da Leitura Orante da Bíblia.

“No Prólogo do evangelho de São João, encontramos o anúncio que ilumina a vida do mundo inteiro: "No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus... e a Palavra se fez carne" (Jo 1, 1.14). A Palavra se torna um de nós e pode ser vista, tem um nome e um rosto: é Jesus Cristo. Depois de percorrer as estradas da Palestina, encontrando todo tipo de pessoas e fazendo o bem, a Palavra feita carne se manifesta de forma mais eminente no Mistério Pascal. É o amor do Pai que, na glorificação do Filho, chega até nós pela força do Espírito.
Com a Bíblia na mão, a Palavra de Deus no coração e com os pés na missão, somos convocados à prática da Leitura Orante. Feita com todo empenho em nível pessoal e comunitário, ela vai nos educar na fé proporcionando uma catequese bíblica, que forma discípulos apaixonados por Jesus Cristo.
Deixemo-nos cativar pela Palavra. Ela faz arder nossos corações, abrir nossas mãos e torna velozes os nossos pés na missão. Maria, modelo perfeito de acolhida e de seguimento da Palavra nos acompanhe na escuta orante e na dedicação generosa ao anúncio da Palavra a partir do testemunho da nossa vida.
(CNBB – 12 de maio de 2010)


Bíblia na mão, Palavra de Deus no coração e pés na missão, “sob o olhar de São José”

O Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica Redemptoris Custos, ensina que o crescimento de Jesus deu-se “sob o olhar de São José”. Na educação de Jesus teve um papel fundamental a escuta da Palavra e o testemunho de seus pais, que permitiram a Jesus perceber que Palavra e Vida podem e devem apoiar-se mutuamente.

Vejamos um pouco da narração do dia a dia da Família de Nazaré, narrada pelo Pe. José Antônio Bertolin, OSJ, no capítulo 10 do Curso de Josefologia:

Terminada todas as vicissitudes e contratempos, de regresso do exílio, José estabeleceu-se com a sua família na pequena Nazaré e retomou as suas atividades de artesão. Afinal, era esta a sua profissão. De volta ao seu ambiente, tudo se tornara mais fácil. Portanto, dificilmente teria encontrado dificuldade em retomar os seus trabalhos na aldeia e nas vizinhanças, pois embora não fosse um homem de cátedra, era muito prático e capaz de, nas ocorrências da vida, tomar decisões não só no que se referia a si mesmo, como também aos outros. A sua profissão fazia dele um homem bastante conhecido entre os nazarenos, e o período que passou longe da sua terra, sem manter contato com os parentes e conterrâneos, não foi suficiente para apagar da memória do povo a imagem daquele homem completo, com sua personalidade rica e responsável em seus deveres.
Sua pequena oficina, que permaneceu por um bom tempo fechada, empoeirada e desapercebida, começava novamente a ser o ponto de encontro das pessoas, o ponto de referência para muitos da cidade e da região circunvizinha. Muito mais que isso, era o palco sublime da presença de Jesus criança e iniciante na arte da carpintaria. De novo o barulho da serra e do martelo passava a chamar a atenção dos transeuntes e a dar tom de vida mais movimentada à pacata cidadezinha.
Como antes, as mãos habilidosas do carpinteiro de Nazaré eram requisitadas não só para fabricar uma mesa ou um par de cadeiras, mas também para abrir uma valeta no quintal de um vizinho, consertar uma porta ou uma janela numa das poucas centenas de casas pobres do lugarejo, ou ainda traçar com maestria e habilidade os fundamentos de uma nova construção.
Desta maneira, o dia-a-dia de José começava a tomar novamente o seu ritmo, junto com a sua castíssima esposa e o seu filho, que “crescia robusto, cheio de sabedoria, pois a graça de Deus estava com ele” (Lc 2,40).
Como qualquer criança de seu tempo, Jesus queria crescer, e por isso observava com atenção o comportamento do pai e da mãe e se espelhava nos seus exemplos para tornar-se como eles. Será um aluno atento na carpintaria como esmero e manejo da serra e as pancadas certeiras do martelo. Sentir-se-á feliz aos sábados, ao deixar a labuta da oficina ou os bancos da escola para acompanhar o pai à sinagoga, ficará admirado ao seguir com atenção seus gestos e suas inclinações na casa de oração, sentira orgulho dele ao vê-lo encaminhar-se para frente na sinagoga, pegar o pergaminho da palavra de Deus nas mãos e proclamar em voz alta e altissonante a todos os presentes a palavra do Senhor.
Será no convívio com os pais que aprenderá o que é necessário para a vida, mas será também na sinagoga, lugar rico em ensinamentos, que irá entender muitas coisas. Atraído por sua curiosidade de criança, saberá que a pequena lâmpada, sempre acesa diante do armário que guarda sigilosamente os pergaminhos da Sagrada Escritura, simboliza a luz da lei divina ali presente que ilumina todos os homens. Será na freqüência à sinagoga que compreenderá que as estrelas de seis pontas significam o emblema do seu antepassado Davi, o grande rei que escreveu salmos belíssimos, muitos dos quais já sabia de cor, pois tinha aprendido em casa nos joelhos de Maria, sua mãe, ou na companhia do pai na carpintaria.
Será na sua família, pequena escola de Nazaré, que Jesus aprenderá a rezar e santificar o dia elevando o pensamento a Deus com as orações costumeiras do israelita. José e Maria, cientes da educação devida ao filho, não se limitarão a transmitir ensinamentos a Jesus apenas em casa, mas seguramente o encaminharão todos os dias a uma escola sinagogal, onde terá como livro os textos sagrados e como professor um rabi. Na escola aprenderá a recitar em voz alta o Shemá, a fórmula fundamental da fé do seu povo, assim como aprenderá longos trechos do Pentateuco. Em casa, aos poucos, entenderá os episódios, da história do seu povo, e como toda criança começará a amar os seus heróis estudados nos textos sagrados, como os Profetas, o poderoso José do Egito, Moisés o grande libertador e líder que conduziu o povo da escravidão do Egito pelo deserto por quarenta anos até a terra prometida, e Davi, que na sua simplicidade abateu o gigante Golias...

Bíblia na mão, Palavra de Deus no coração e pés na missão, “sob o olhar de São José”

O Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica Redemptoris Custos, ensina que o verdadeiro devoto de São José deve aprender a recorrer a ele com confiança e a imitá-lo em “seu modo humilde e amadurecido” de servir:

É para mim uma alegria cumprir este dever pastoral (escrever sobre São José), no intuito de que cresça em todos a devoção ao Patrono da Igreja universal e o amor ao Redentor, que ele serviu de maneira exemplar.
Desta forma, todo o povo cristão não só recorrerá a São José com maior fervor e invocará confiadamente o seu patrocínio, mas também terá sempre diante dos olhos o seu modo humilde e amadurecido de servir e de “participar” na economia da salvação

Jesus é o maior exemplo da eficácia do método da Leitura Orante da Palavra de Deus. E São José foi aquele escolhido por Deus para, junto com Maria, ensinar a Jesus por palavras e pelo exemplo, a importância da Palavra na vida humana.

Com a Bíblia na mão, a Palavra de Deus no coração e “sob olhar de São José”, podemos ter a certeza de perseverar na missão e de que esta será frutuosa.