SUA PRUDÊNCIA


                Quando rezamos a ladainha de São José, afirmamos “José prudentíssimo”. O titulo “prudentíssimo” está profundamente relacionado com a sua atitude face à dúvida que o aconteceu, de que fala o evangelista Mateus. São Bernardo, procurando entender as razões da dúvida de José, se perguntou: “Por que José quis deixar Maria ocultamente?” E ele mesmo respondeu, concluindo que “José quis deixar Maria pelo mesmo motivo pelo qual Pedro quis distanciar-se de Jesus dizendo ‘afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador’. Pelo mesmo motivo pelo qual o centurião não quis que Jesus entrasse em sua casa, dizendo ‘Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa’. Da mesma forma José se achava indigno e pecador e por isso pensava em não mais compartilhar a convivência familiar com sua esposa. Assim como Pedro, o centurião e tantos outros se sentiram indignos diante da onipotência de Deus também ficou José, assim como teria ficado perplexo qualquer outro homem que constatasse o milagre de uma virgem grávida. Por isso, não é de admirar que José tenha se sentido indigno de conviver com uma virgem que se tornara mãe milagrosamente.
             José viu com os próprios olhos a gravidez de sua esposa Maria, sem que tivesse tido relações com ela; mas, dada a sua retidão e a virtude de Maria, ele, de maneira alguma, pensou mal dela. Tanto isto é verdade, que procurou deixá-la ocultamente.  Se tivesse concluído pela culpa da esposa, poderia, como todos os homens do seu tempo, repudiá-la publicamente, mesmo porque a gravidez era prova evidente para todos. A extraordinária virtude que Maria possuía de modo algum podia impelir José a duvidar dela, porque era bom e justo. Era natural que a situação o angustiasse, pois não encontrava explicações para o mistério, quando era evidente o processo de gestação da sua esposa.
            Uma pergunta surge quando deparamos com o comportamento de José: por que ele queria achar uma saída secreta para deixar Maria? Considerando as suas virtudes, ele não imaginava nela culpa alguma e conseqüentemente, não podia difamá-la. Como era costume da época, o marido só podia deixar sua esposa através do libelo de repúdio, que consistia automaticamente no divórcio; mas, para isso, era necessário apresentar publicamente provas apoiadas em motivos válidos. E que motivo podia ele apresentar sem que com isso a difamasse, sendo que era Justo? Sabedor de todas as normas que regiam tais procedimentos, José não podia proclamar publicamente que a considerava inocente e pura, não obstante a sua gravidez, pois quem iria acreditar nele? Seguramente o povo teria rido dele e, em seguida lapidado sua esposa, considerando-a adúltera.  
 
São José, Fiel Vocacionado pag. 32  
Pe. José Antônio Bertolin OSJ.